A hora da audácia
Publicado em: 8 de outubro de 2022
Colunistas
Felipe Demier
Felipe Demier
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É autor, entre outros livros, de “O Longo Bonapartismo Brasileiro: um ensaio de interpretação histórica (1930-1964)” (Mauad, 2013) e “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil” (Mauad, 2017).
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Felipe Demier
Felipe Demier
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É autor, entre outros livros, de “O Longo Bonapartismo Brasileiro: um ensaio de interpretação histórica (1930-1964)” (Mauad, 2013) e “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil” (Mauad, 2017).
O tal mercado já teve todas as sinalizações que queria, e talvez até um pouco mais. Mas seus grandes homens invisíveis não controlam a massa de médios e pequenos empresários neofascistas, que está movendo mundos e fundos para eleger Bolsonaro, e nem dirigem a infinita plêiade de pastores neopentecostais, cujo amor ao “deus de Israel” é tão grande quanto o ódio cruento a qualquer avanço mínimo do esclarecimento entre os trabalhadores, sejam eles os da primeira ou os da undécima hora. O tal mercado, a essa altura, já fez o que tinha que fazer, e agora pode muito pouco. Pode seguir chantageando, exigindo, pautando, mas não tem votos.
O caminho por cima está sendo feito, mas será o caminho por baixo, dos debaixo, dos justos, que decidirá a eleição. Não há outro caminho para derrotar nas urnas o neofascismo senão o da mobilização, como muita disposição, vermelho e aparição. O anúncio de medidas econômicas concretas, que toquem de imediato a cabeça e o estômago dos trabalhadores, devem ser prioridade nesse momento, a despeito dos prováveis “incômodos” na Faria Lima. Mais do que a nostalgia de uma l’âge d’or um tanto distante para muitos, do que a memória de uma concertação social idílica inexistente para os mais jovens, vale o anúncio do que virá.
“Razão e feijão, todo dia dão de renovar”, já disse, com razão, Riobaldo. É necessário à campanha afirmar que, partir de janeiro, com a vitória de Lula, o salário mínimo será maior, que o auxílio será aumentado, que o SUS será ampliado e melhorado, que escolas públicas e moradias populares serão construídas; universidades, expandidas; concursos, realizados, aluguéis, congelados, e a vida, assim, melhorada. A burguesia teve todas as oportunidades, normais e virais, para remover Bolsonaro do poder, e agora já não pode impedi-lo de lá permanecer. Agora, decisivamente, são as massas que devem ser buscadas. Uma cabeça, um voto, e nós temos muito mais cabeças, e temos que ter mais votos para ainda termos cabeças.
Para a esquerda socialista e o movimento democrático em geral, seus partidos, organizações, entidades e lideranças, não há nada mais importante a fazer nos próximos dias do que ir às ruas, e não há qualquer argumento, nem mesmo o financeiro, para que a campanha não seja agora maior, bem maior, do que foi no primeiro turno. Postos fixos de panfletagem e propaganda devem ser não só mantidos como ampliados, muito material deve ser rodado, e qualquer movimento e mandato parlamentar de esquerda que não estiver endividado a partir de primeiro de novembro certamente terá uma dívida impagável com a história. Se no princípio era o verbo, agora é hora da ação. Como há muito bradou um revolucionário francês, inimigo do medievalismo atroz, “audácia, audácia e, uma vez mais, audácia!”
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