Chega de chacina. Vidas negras importam!

Nota da Resistência/PSOL Rio de Janeiro sobre Chacina do Jacarezinho


Publicado em: 6 de maio de 2021

Brasil

Resistência Rio de Janeiro

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Brasil

Resistência Rio de Janeiro

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Compartilhe:

Ouça agora a Notícia:

Seis dias após a posse definitiva do governador Claudio Castro, em meio a uma pandemia que já vitimou 45.581 pessoas no estado do Rio e mais de 24 mil somente na capital carioca, o dia mais trágico do ano foi resultado direto da ação do Estado. Uma mega-operação policial na favela do Jacarezinho na manhã de hoje, dia 06 de maio, deixou ao menos 25 mortos, a mais letal da história do Rio de Janeiro.

Relatos de moradores e defensores de direitos humanos não deixam dúvida que o que ocorreu no Jacarezinho foi uma chacina realizada por agentes do Estado e custeada com dinheiro público. Casas invadidas e crivadas de balas, celulares apreendidos, uso de granadas, pessoas mortas em becos e casas. Um jovem negro executado sentado numa cadeira, colocado com um dedo na boca como forma de recado sádico das forças policiais para os moradores.

A operação ocorreu num momento em que decisão do Supremo Tribunal Federal veda a realização de incursões policiais em favelas, exceto em caso de “absoluta excepcionalidade”. Não se conhece nenhum fato que demonstre essa excepcionalidade. A proibição de operações policiais durante a pandemia vinha impondo uma interrupção na trajetória de rápido aumento de letalidade policial. Claudio Castro, assumindo o governo após o impeachment de Wilson Witzel, demonstra querer retomar a mesma política de seu companheiro de chapa. Em novembro, o governo do estado já havia sido intimado pelo ministro Edson Fachin, do STF, para responder pela realização de nove operações policiais, em descumprimento da determinação do tribunal.

Trata-se de uma decisão política consciente do governador que resultou no massacre de hoje. O morticínio se deu em nome da estúpida “guerra às drogas”, mas se revela como ato de terror de Estado. Moradores de favelas e periferias, em sua maioria esmagadora negros e negras, convivem há décadas com a rotina de incursões policiais que enxergam estes territórios como zonas de disputa militar, onde garantias legais e o direito à vida são ficções dispensáveis. A brutalidade policial, por sua vez, convive com a cumplicidade com as facções criminosas, numa simbiose em que a criminalização das drogas alimenta as cadeias de propina que enriquecem comandantes, coronéis e governadores.

A zona de arbitrariedade imposta às favelas e a tutela armada permanente é a face mais brutal de uma realidade de precarização e negação de direitos. São justamente os/as trabalhadores/as mais precarizados/as, com menos acesso a serviços públicos e infra-estrutura que sofrem com suas casas e ruas transformadas em campo de batalha e de execução. Por ser um território de maioria negra, fica nítido o racismo deste governo e seus anteriores, que tratam a vida da maioria da população como descartáveis. Essa política de extermínio, agravada pelo negacionismo da pandemia, revela a permanência do racismo secular entre nossas elites.

A denúncia de mais essa chacina só é possível pela coragem dos movimentos de favelas e pela atuação de defensores dos direitos humanos, eles mesmos alvos da violência policial. Em meio ainda à intensa atividade de policiais civis e militares, os moradores do Jacarezinho realizaram ato de denúncia do massacre que havia acabado de ocorrer. É necessário dar todo apoio aos movimentos de favela na denúncia da brutalidade policial e para derrotar a política de segurança pública que encara moradores de favelas como inimigos ou perdas aceitáveis. O governador Claudio Castro, o chefe da polícia civil, o comandante da polícia militar, os comandantes da operação, todos os agentes públicos envolvidos precisam ser responsabilizados.

Basta de chacina! Basta de guerra aos pobres! Basta de genocídio da negritude!


Contribua com a Esquerda Online

Faça a sua contribuição