Lockdown no Pará: é necessário dar condições às trabalhadoras e aos trabalhadores para que fiquem em casa


Publicado em: 8 de maio de 2020

Brasil

Marcos Biagi, de Belém, PA

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Brasil

Marcos Biagi, de Belém, PA

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Compartilhe:

Ouça agora a Notícia:

 

Esta quinta-feira, 05, foi o primeiro dia do isolamento radical, o chamado lockdown, no estado do Pará. Em sua capital, Belém, e na região metropolitana houve aglomerações, inclusive o funcionamento de comércio não essencial. Mesmo com o colapso na área da saúde e funerário, a população segue saindo às ruas. O que precisa ser feito para que o decreto de lockdown saia do papel e seja real?

Nos dias que antecederam, Hélder Barbalho, governador do estado, e Zenaldo Coutinho, prefeito de Belém, culpabilizavam a população pelo não funcionamento do distanciamento social. Com um tom de ameaça, preconizavam que, se a população não cooperasse, o lockdown seria adotado. Esse discurso errático e omisso acenava visivelmente para o setor econômico, dizendo: “estamos, enquanto governo, fazendo nossa parte, pois não queremos afetar o lucro de vocês, mas a população não está fazendo a parte dela.”

Ainda no decreto do lockdown, vemos mais um aceno escancarado e absurdo à camada mais abastada da população, ao listar dentre as atividades essenciais, o serviço doméstico. Depois de muita pressão nas redes sociais e repercussão em mídias nacionais, o decreto, no seu ponto 58, foi alterado. 

Vemos, portanto, que, mesmo diante do grave cenário paraense, que no dia de ontem contabilizou o total de 5.935 casos confirmados e 488 óbitos (sendo o 6º estado do país com mais casos e mortos), Hélder e Zenaldo preocupam-se com uma minoria abastada e voltam as costas à maioria do povo paraense. Em um estado em que, segundo o IBGE(2020), 62,4% dos trabalhadores estão no trabalho informal, sendo 49,9% em Belém, é desumano culpar a população pela não cumprimento total do isolamento social. Decretar um lockdown, uma medida acertada e muito necessária neste momento, sem dar condições para que essas pessoas possam suprir suas necessidades básicas torna-o ineficiente e expõe as famílias pobres a uma situação dramática. É muito arbitrário preocupar-se apenas com bloqueio de algumas avenidas principais, medida adotada, hoje (08/05), enquanto a maioria das trabalhadoras e trabalhadores do estado tem sua fonte de renda afetada. 

A fiscalização faz-se necessária neste momento  para garantir o cumprimento do isolamento radical, mas sem uma implementação de uma medida emergencial, um auxílio financeiro composto por verba estadual e municipal oriundo da taxação da isenção das grandes empresas, pode desembocar em dois péssimos cenários: 1) a não adesão da população, que por motivos de sobrevivência, quebra o isolamento, se expondo ao contágio, e vai atrás de seu sustento, como vem ocorrendo, principalmente, nas periferias. 2) a maioria das trabalhadoras, trabalhadores e suas famílias, ficará em casa, devido a coerção (que vai levar à delegacia e multar, a partir de domingo, quem descumprir o isolamento), sem tem o que comer. Dois cenários de horrores para o grave quadro que já temos no estado. 

Vemos, em âmbito federal, um governo de morte que além de desdenhar da morte das vítimas da covid-19, incita cada vez mais o fim do isolamento e ainda atrasa o pagamento do auxílio de R$ 600,00 (que é muito aquém da necessidade da população), forçando a retomada das atividades econômicas. Essa política genocida bolsonarista é mais um obstáculo, nesse caso ideológico, para poder implementar o lockdown de maneira eficiente. Mas, impor essa medida restritiva, sem dar condições para que a população sobreviva,  também é uma política de morte. Além de também dar força para o discurso negacionista de Bolsonaro, uma vez que, diante da fome e da falta de recursos, ninguém conseguirá aderir ao isolamento. 

O povo paraense não pode esperar. O lockdown é uma medida acertada e necessária diante da grave situação do estado, mas também é urgente uma medida emergencial, de origem  estadual e municipal, que dê condições financeiras para que as pessoas fiquem em casa e possam suprir suas necessidades. Junto a essa medida, é necessário também que haja fiscalização para que apenas os serviços essenciais estejam ao acesso da população, além da ampliação dos leitos de UTI e testagem em massa. Quarentena remunerada é um direito de todas e todos.

 

LEIA MAIS

“Quero Poder Ficar em Casa”, Campanha de solidariedade é lançada em Belém. Participe!


Contribua com a Esquerda Online

Faça a sua contribuição