19ª Assembleia Xukuru em defesa da vida reuniu duas mil pessoas em Pesqueira, PE
Publicado em: 6 de junho de 2019
Em um contexto político marcado pelo avanço da extrema direita, do conservadorismo de traços fascistas, mais de 2 mil pessoas participaram da 19ª Assembleia do Povo Xukuru do Ororubá, realizada na Aldeia Pedra D’água, Zona Rural, município de Pesqueira-PE, cujo tema foi “Limolaygo Toype (Terras dos Ancestrais): em defesa da vida. EU SOU XIKÃO”, entre os dias 17 a 20 de maio de 2019.
Com a presença de diferentes povos indígenas, como os fulni-ô, os Pankararus, os Tabajaras e os Truká, ficou evidente o potencial de organização e resistência dos povos indígenas, os quais, mediantes seus modos de vida, entrelaçam a espiritualidade, as questões políticas e a proteção da natureza como elementos elementares da vida. Foram três dias nos quais foi possível vivenciar a possibilidade de outra forma de sociabilidade, na qual a natureza e sua força são reverenciadas, na qual a solidariedade prevalece sobre as formas de dominação e o valor de uso se sobressai ao valor de troca, demonstrado, principalmente, com a disponibilidade de alimento para todos os participantes, sem a mediação do dinheiro. Essas características demonstram a possibilidade de outra forma de sociabilidade, representando, então, para o capital uma barreira ideológica e social que nesse momento do capitalismo precisa ser ultrapassada.
Os desmontes das políticas sociais ocasionadas pelo atual governo, o qual demonstra em suas medidas um total desprezo à vida, principalmente à vida dos povos tradicionais, foi a principal pauta do encontro. Desse modo, foi debatido os impactos da reforma trabalhista, da reforma da previdência, dos cortes na educação e os impactos sobre as políticas indigenistas. Antes mesmo de vencer as eleições presidenciais de 2018, o atual presidente da república declarou abertamente que se depender dele não haveria mais demarcação de terra indígena.
Dentre as principais ações tomadas nesses cinco meses de governo o ataque aos povos indígenas teve grande destaque, a exemplo da Medida Provisória 870/2019, assinada no dia 1 de janeiro, a qual transferia a FUNAI do Ministério da Justiça para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, como também retirava dessa fundação a competência de identificar, delimitar e demarcar as terras indígenas transferindo para o Ministério da Agricultura, órgão historicamente vinculado aos interesses dos ruralistas. Todavia, devido às mobilizações indígenas e o apoio de deputados, esses dois pontos foram revertidos e a FUNAI permaneceu no Ministério da Justiça e manteve sua função de demarcar as terras indígenas.
Após 21 anos do assassinato do cacique Xikão, a maior liderança Xukuru que lutou bravamente para garantir o território do povo Xukuru e os direitos indígenas pressentes na Constituição de 1988, na 19ª assembleia os povos indígenas reafirmaram o compromisso em defesa da vida, demonstrando que quem resiste há 519 anos não recua jamais. Defender a vida para os povos indígenas consiste em considerar a pluralidade das formas de vida, humana e não humana, é lutar pela preservação da natureza, negando o modelo primário-exportado marcado pelo avanço da mineração e do agronegócio, é garantir a efetivação da demarcação das terras indígenas, é garantir uma aposentadoria digna para os trabalhadores, trabalho regulamentado e uma educação pública e de qualidade.
Ao som do toré, um elemento fundamental na cosmovisão Xukuru, os povos indígenas e não indígenas desceram no último dia a serra em direção ao local onde o cacique Xikão foi morto, dentro da cidade de Pesqueira, afirmando que não irão recuar, mas avançar, como relembrou o atual cacique Marcos retomando a fala do cacique Xicão: “Diga ao povo que avance”, respondida unissonamente por todos os presentes: “avançaremos”! Temos muito que aprender com os povos indígenas, são vidas-lutas que resistem historicamente e não estão dispostos a se curvarem ao avanço do capital. Portanto, nesse momento precisa-se mais do que nunca colocar sobre o medo a coragem! Avancemos!
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