Roma, um filme sobre alguém incrível e invisível


Publicado em: 9 de abril de 2019

Cultura

Travesti Socialista, colunista do Esquerda Online

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Cultura

Travesti Socialista, colunista do Esquerda Online

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Compartilhe:

Ouça agora a Notícia:

Simples, cotidiano e trivial, essa é a primeira impressão causada pelo filme. Entretanto, quem tiver só um pouco de paciência e se entregar, perceberá que a história é muito mais profunda do que parece. Impossível não se apaixonar pela protagonista Cleo, uma empregada doméstica indígena de uma família branca de renda média-alta na Cidade do México. Humilde, tímida, faz todas as tarefas que lhe são delegadas com muito carinho, desde quando acorda até a hora de dormir, sem ser reconhecida.

No longa-metragem, não há ninguém que faça as coisas com tanto zelo quanto ela. A tarefa ingrata e desvalorizada, sem a recompensa nem o salário merecidos. Cleo não é reconhecida, aliás, não é nem sequer conhecida, é uma figura invisível e silenciosa que só é lembrada quando se pede um favor ou então quando está ausente. Faz tudo e não pede nada em troca, pois o faz por amor pelas crianças e pela patroa.

O carinho que Cleo tem pela família, mesmo sem ser considerada ou tratada como parte dela, se contrasta com a distância e a apatia do pai, um médico. Ele entra na casa como quem não quer, se sente sufocado e reclama de tudo – principalmente do trabalho da Cleo. O seu espírito permanece do lado de fora enquanto o corpo entra.

Uma breve cena que explica todo o filme

Cleo sai à procura de Fermín e o encontra numa aula de artes marciais ao ar livre. Enquanto ela fica ao lado de outras mulheres que estão assistindo à aula, aparece um famoso mestre que pede para um dos estudantes vendar-lhe os olhos. Todos prestam muita atenção enquanto ele calmamente assume uma posição estranha, sobre uma perna só e os braços para cima. Uma pausa silenciosa e os estudantes começam a cochichar e rir.

“Não gostaram?”, perguntou o mestre. “Pensam que é fácil? Então façam vocês, mas com os olhos fechados.” Na cena seguinte, com a câmera afastada, uma centena de estudantes tenta, sem sucesso, equilibrar-se na mesma posição. A câmera vira para o lado, às mulheres que estão à margem e quase todas tentam, sem sucesso, imitar o mestre. Com exceção, é óbvio, de Cleo, que permanece naquela posição, tranquila, de olhos fechados.

O trabalho de Cleo parece fácil, mas não é. As trabalhadoras domésticas assalariadas merecem reconhecimento, respeito, direitos trabalhistas e um salário digno. As trabalhadoras domésticas não-assalariadas merecem que todos façam sua parte do serviço doméstico.


Compartilhe:

Contribua com a Esquerda Online

Faça a sua contribuição