Diário feminista de viagem: terceiro dia
Publicado em: 8 de agosto de 2018
Tá difícil conseguir dormir sabendo que daqui algumas horas vamos, todas nós, pra rua, fazer nada mais, nada menos, que a história.
Desci do metrô pela manhã perto da Praça de Maio. No chão está pintado os pañuelos que as mães e avós da praça de maio usam. Fiquei emocionada. A caracterização aqui é que é bastante possível que a votação não passe amanhã. Mesmo assim as hermanas não param de lutar e com certeza, daqui alguns anos, haverá a pintura dos pañuelos verdes. Na terra do papa, ou vai ter aborto legal ou vai haver “quilombo” como dizem: expressão que usam pra dizer que a coisa pode se radicalizar, sair do controle. O que dizem no movimento aqui é que a Igreja deu um giro pra disputar as manifestações e também os votos. Não à toa as palavras de ordem falam muito contra a concepção clerical da sociedade. Além dos pañuelos verdes, há também pañuelos laranjas que exigem a separação entre Igreja e Estado. Lutas que se somam dentro do espectro político da esquerda. Caminhei pela Calle Florida e vi infinitos camelôs vendendo pañuelos verdes e também laranjas. Não vi nenhum vendendo pañuelo celeste, contrário ao projeto.
Fui até as imediações da Faculdade de Direito da UBA (Universidade de Buenos Aires) esperar o pañuelazo. Sozinha, peguei ônibus, metrô e caminhei muito. Para mim não é fácil andar assim em outro país. Nem no Brasil é fácil. Sim, sou mulher e posso me virar sozinha, ainda mais porque cada pañuelo verde que via em cada mochila fazia com que eu me sentisse abraçada pelas hermanas. Finalmente cheguei ao Pañuelazo na Universidade de Direito. Mesmo aquele prédio sendo imenso, a mobilização das mulheres foi maior. Uma mocinha pintou de verde uma parte do meu cabelo com todo carinho.
No metrô, um grupo de professoras tirou uma foto “aborto legal”. Achei sensacional e acabei saindo junto. Apesar de sabermos que vai ser difícil passar amanhã, a ansiedade toma conta de todas, pois uma certeza nós temos: amanhã vai ser um dia histórico pra luta de classes mundial.
Foto: Reprodução / Facebook CSP-Conlutas
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